Hoje vou contar uma história pra vocês, a história do
desapego e do apego. Na minha história o apego e o desapego têm nome.
Vou chamar o apego de Dona Francisca e o desapego de Seu
Expedito.
Dona Francisca ama suas plantas e
cada uma delas carrega uma memoria um personagem. Uma das plantas que ela mais
gosta foi plantada num vaso que não é exatamente um vaso, na realidade é uma tigela
esmaltada que foi da sua mãe, hoje furada. Essa tigela era a onde a sua mãe foi servida
com canjas de galinha após os partos. Dona Francisca estima que esta peça tenha oitenta e seis anos, a idade da sua
irmã mais velha.
Seu Expedito adora podar as plantas da Dona Francisca.
Formigão branco é o apelido que seu Expedito ganhou
carinhosamente de sua filha (Eu).
Toda vez que seu Expedito fica sozinho na chácara ele
poda as plantas da dona Francisca, e sempre que a dona Francisca chega e vê
suas plantas “podadas” a casa treme.
Só que dessa vez seu Expedito foi longe de mais, ele
podou no toco do tronco o pé de manacá.
Que dó fiquei de dona Francisca, ela ligou chorosa triste
reclamando como se pedisse socorro contra esse formigão branco que parece uma saúva.
Nada pude fazer, afinal de contas o manacá já tinha sido
cortado.
_Esse manacá foi Raimundo que deu a muda assim que
mudamos pra cá. Disse Dona Francisca ainda sem acreditar na proeza de seu
Expedito.
Raimundo era seu cunhado que já partiu. A proposito meu
padrinho lindo.
_ Mãe deixa falar com meu pai.
_ Pai porque o senhor fez isso?
_ Eu podei pra ela crescer mais forte e assim ela vai dar
mais flores.
Meu Deus! Como chamar a atenção desse formigão adorável.
_ Pai, por favor, consulta a minha mãe antes de “podar”
as plantas dela. Pode ser?
_ Tá bom.
Queria eu ser o equilíbrio desses dois adoráveis
extremos.
Dizem que quem não tem apego sofre menos.
Mais o que seria de nós se não tivéssemos apego?
Parafraseando Caio F. Abreu ( ...)Sem apego. Sem
melancolia. Sem saudade. A ordem é desocupar lugares. Filtrar emoções.
Cortar todas as plantas?
Concordo mais com Clarice Lispector
“Apego pelo o que vale a pena, e desapego pelo o que não
quer valer”.
Será que o pé de manacá um dia vai brotar?