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quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Qual o pior dos lixos?


Tempos remotos!

Na realidade não tão distante assim. Nós que estamos entre os 35 anos pra cima somos de uma geração que vimos o desenvolvimento mágico, rápido da tecnologia. Há pouco tempo não conhecíamos nem os primórdios, como o celular, Vídeo games, vídeo k7 e tantas outras coisas. E Os meios de comunicação! Demorava com a chegada do bom e velho carteiro com as cartas, algumas até perfumadas e telegramas. Havia também os bilhetes, recado boca a boca e os telefones fixos só para alguns. Essa era nossas opções.
E a ideia de conceitos sobre invasão de privacidade.  Olhar pelo buraco da fechadura, ouvir atrás da porta, fofocar e mexer no lixo!
Quem que poderia imaginar em arrumar namorada (o) em rede social. Ouvi dizer que há um grande diferencial apontado por uma companhia é o chamado "Hub", que integra em uma mesma tela todas as redes sociais - Facebook, LinkedIn, Twitter, o sistema e mensagens da RIM BBM e o e-mail. (Não entendi muito bem!).
Pois bem dizem por ai que nas redes sociais tem horas que a pessoa pode esta paquerando até 10 pessoas ao mesmo tempo, dai lembrei-me de Fernando Veríssimo.
“Paquerar é bom, mas chega uma hora que cansa! Cansa na hora que você percebe que ter 10 pessoas ao mesmo tempo é o mesmo que não ter nenhuma, e ter apenas uma, é o mesmo que possuir 10 ao mesmo tempo.( E acho que ele nem referiu a rede social).

Nessas horas sempre surge aquela tradicional perguntinha: Por que aquela pessoa pela qual você trocaria qualquer programa por um simples filme com pipoca abraçadinho no sofá da sala não despenca na sua vida?”.

Logo lembrei do texto de sua autoria: O Lixo!
 
 
 
O Lixo de Luiz Fernando Verissimo

Encontram-se na área de serviço. Cada um com seu pacote de lixo. É a primeira vez que se falam.
- Bom dia...
- Bom dia.
- A senhora é do 610.
- E o senhor do 612
- É.
- Eu ainda não lhe conhecia pessoalmente...
- Pois é...
- Desculpe a minha indiscrição, mas tenho visto o seu lixo...
- O meu quê?
- O seu lixo.
- Ah...
- Reparei que nunca é muito. Sua família deve ser pequena...
- Na verdade sou só eu.
- Mmmm. Notei também que o senhor usa muito comida em lata.
- É que eu tenho que fazer minha própria comida. E como não sei cozinhar...
- Entendo.
- A senhora também...
- Me chame de você.
- Você também perdoe a minha indiscrição, mas tenho visto alguns restos de comida em seu lixo. Champignons, coisas assim...
- É que eu gosto muito de cozinhar. Fazer pratos diferentes. Mas, como moro sozinha, às vezes sobra...
- A senhora... Você não tem família?
- Tenho, mas não aqui.
- No Espírito Santo.
- Como é que você sabe?
- Vejo uns envelopes no seu lixo. Do Espírito Santo.
- É. Mamãe escreve todas as semanas.
- Ela é professora?
- Isso é incrível! Como foi que você adivinhou?
- Pela letra no envelope. Achei que era letra de professora.
- O senhor não recebe muitas cartas. A julgar pelo seu lixo.
- Pois é...
- No outro dia tinha um envelope de telegrama amassado.
- É.
- Más notícias?
- Meu pai. Morreu.
- Sinto muito.
- Ele já estava bem velhinho. Lá no Sul. Há tempos não nos víamos.
- Foi por isso que você recomeçou a fumar?
- Como é que você sabe?
- De um dia para o outro começaram a aparecer carteiras de cigarro amassadas no seu lixo.
- É verdade. Mas consegui parar outra vez.
- Eu, graças a Deus, nunca fumei.
- Eu sei. Mas tenho visto uns vidrinhos de comprimido no seu lixo...
- Tranqüilizantes. Foi uma fase. Já passou.
- Você brigou com o namorado, certo?
- Isso você também descobriu no lixo?
- Primeiro o buquê de flores, com o cartãozinho, jogado fora. Depois, muito lenço de papel.
- É, chorei bastante, mas já passou.
- Mas hoje ainda tem uns lencinhos...
- É que eu estou com um pouco de coriza.
- Ah.
- Vejo muita revista de palavras cruzadas no seu lixo.
- É. Sim. Bem. Eu fico muito em casa. Não saio muito. Sabe como é.
- Namorada?
- Não.
- Mas há uns dias tinha uma fotografia de mulher no seu lixo. Até bonitinha.
- Eu estava limpando umas gavetas. Coisa antiga.
- Você não rasgou a fotografia. Isso significa que, no fundo, você quer que ela volte.
- Você já está analisando o meu lixo!
- Não posso negar que o seu lixo me interessou.
- Engraçado. Quando examinei o seu lixo, decidi que gostaria de conhecê-la. Acho que foi a poesia.
- Não! Você viu meus poemas?
- Vi e gostei muito.
- Mas são muito ruins!
- Se você achasse eles ruins mesmo, teria rasgado. Eles só estavam dobrados.
- Se eu soubesse que você ia ler...
- Só não fiquei com eles porque, afinal, estaria roubando. Se bem que, não sei: o lixo da pessoa ainda é propriedade dela?
- Acho que não. Lixo é domínio público.
- Você tem razão. Através do lixo, o particular se torna público. O que sobra da nossa vida privada se integra com a sobra dos outros. O lixo é comunitário. É a nossa parte mais social. Será isso?
- Bom, aí você já está indo fundo demais no lixo. Acho que...
- Ontem, no seu lixo...
- O quê?
- Me enganei, ou eram cascas de camarão?
- Acertou. Comprei uns camarões graúdos e descasquei.
- Eu adoro camarão.
- Descasquei, mas ainda não comi. Quem sabe a gente pode...
- Jantar juntos?
- É.
- Não quero dar trabalho.
- Trabalho nenhum.
- Vai sujar a sua cozinha?
- Nada. Num instante se limpa tudo e põe os restos fora.- No seu lixo ou no meu?

Têm coisas que é melhor a moda antiga, vocês não acham?

 

5 comentários:

  1. Que bacana esse post, Alessandra. Amei a história dos dois lixos. Virei sua seguidora por conta da poesia no lixo, pode? Se quiser me visitar, passe lá no datilografe.blogspot.com.br para uma xícara de chá. Um grande abraço!

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  2. Adoro esse texto.
    Para mim muitas, muitas, muitas coisas são melhores a moda antiga.
    Paquera, namoro, compromisso, amizade, almoço de domingo, festas, carinho, educação, avós, relações comercias, danças, propagandas, programas de tv, programinhas entre amigos, festas de aniversário...

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  3. Oi Alê,
    Saudades de vir aqui. O tempo não ajuda.
    Gostei demais de sua reflexão e concordo com você.
    Tem coisas que é melhor a moda antiga.
    Bj,
    Lylia

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  4. Era possível conhecer pessoas através do lixo; hoje é só fuçar o facebook, ou melhor ainda, o tal do Hub.
    Já deu seus pulinhos pra São Longuinho pra achar o cabo da máquina?!
    Bj

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  5. Lindo texto do Verissimo!Divertido e nos faz imaginar a cena. Poderia isso ser verdade?Bjs Inté!

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